Palestina

“Netanyahu: “PRESS” não significa alvo”, por Ricardo Esteves Ribeiro

Um protesto não violento tem levado milhares de palestinianas e palestinianos até à fronteira da faixa de Gaza com Israel, exigindo o fim da ocupação israelita – que acontece há cerca de 50 anos -, e o fim do bloqueio a Gaza, que entala 1,8 milhões de pessoas num rectângulo de 365 quilómetros quadrados.

O bloqueio que Israel tem imposto a Gaza dura já há mais de dez anos e impede a entrada e saída de residentes, bem como as importações e exportações (e, por vezes, também alimentos, combustível, roupa e produtos de higiene, bens supostamente excluídos de proibição). Ninguém entra, ninguém sai. Várias organizações, como as Nações Unidas, têm alertado para o processo de negação de direitos humanos que ocorre em Gaza: uma em cada duas pessoas estão desempregadas; a eletricidade e a água canalizada têm graves falhas (1,2 milhões de residentes não têm acesso a água canalizada e, para os que têm, 97% dela é demasiado poluída, com sal e esgoto, para poder ser bebida).

O protesto, apresentado como não violento, foi planeado para seis semanas consecutivas, às sextas-feiras, e tem vindo a ser reprimido pelas forças militares israelitas, que nas últimas duas semanas assassinaram, pelo menos, 31 protestantes, incluindo Yasser Murtaja, jornalista palestiniano que se encontrava no local do protesto, vestindo um colete azul claramente marcado com a palavra “PRESS” (imprensa, em português). O jornalista foi morto por um sniper (um atirador especial que utiliza armas de alta precisão) do exército israelita, com um tiro no abdómen.

O Ministro da Defesa israelita, Avigdor Lieberman disse, depois da morte de Yasser (e de outras 30 pessoas), que “não existem pessoas inocentes da faixa da Gaza”, sugerindo que qualquer civil pode ser morto – incluindo jornalistas. Glenn Greenwald, jornalista e fundador do The Intercept, afirmou que Lieberman tem a mentalidade de um “maníaco genocida”.

Os abusos de poder, assassínios brutais e deliberados e as ações contra os direitos humanos por parte dos governos Israelitas não são de hoje. Acontecem há décadas, tendo vindo a ser reportados consecutivamente por organizações como as Nações Unidas, a Amnistia Internacional, a Cruz Vermelha ou a Human Rights Watch.

Do lado de fora, o ocidente “desenvolvido” olha para Israel de duas maneiras. Ou aliado, como fazem os Estados Unidos da América, que assinaram em 2016, durante a governação de Obama, um memorando de entendimento para ajuda monetária a Israel num valor de 38 mil milhões de dólares, a dez anos. Ou ator económico inócuo, a quem se pode vender armas indiscriminadamente, como faz o Reino Unido. Nos últimos dois anos, Londres exportou o equivalente a 230 milhões de libras esterlinas, em armas e material militar, para Tel Aviv. Talvez a arma que matou Yasser tenha sido paga com dinheiro de contribuintes britânicos.

Yasser Murtaja tinha 30 anos. Nasceu e morreu em Gaza. Nunca de lá saiu. Na sua página de Facebook, uma das últimas publicações mostrava uma imagem da cidade de Gaza, vista do céu. A descrição dizia: “Gostava de um dia poder tirar esta fotografia enquanto estou no ar, e não no chão. O meu nome é Yasser Murtaja. Tenho 30 anos. Vivo na cidade de Gaza. Nunca viajei.”

Fotografia: Joe Catron

Subscreve a newsletter

Escrutinamos sistemas de opressão e desigualdades e temos muito que partilhar contigo.